quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mergulho no caos

Os meus braços não alçaram o cuidado. Não. O caos chegou mesmo eu olhando e avisando ("Atenção ele pode chegar. Porque o que é grandioso não vem do nada. Vem de detalhes, dia após dia".) Só eu vi. Chegou; e quando chegou, eu inicialmente apenas suspeitei. Mas chegou e bem pior do que eu imaginava: Obscuro, rasteiro, duvidoso, nebuloso, subjetivo, confuso... 

Mesmo eu sendo acostumada a também olhar para o escuro não dimensionei, não dimensiono! Porque ele não veio dos dois, não veio de mim. Veio da parte mais gostosa da minha vida. Da pessoa que eu ficava mais contente em ver; e eu não estou conseguindo ajudar. 

Eu que ajudo tanta gente não consigo nos ajudar! Eu que tenho tanta paciência estou corroendo a esperar.; eu que sou tão cheia de luz como dizem, me apaguei; eu que mereço tanto (como muitos também falam), estou recebendo frieza e confusão. Eu que quero distância pra pensar, estou recebendo uma presença distante; eu que dependo da ação do outro pra tomar parâmetro e agir em adaptação pra equilíbrio, eu não estou conseguindo ler! 

Eu que durmo e encontro paz, não estou conseguindo dormir; eu que tenho Deus dentro de mim, não estou conseguindo ficar bem por muito tempo; eu que tenho certezas, estou recebendo o caos pra ter dúvidas; eu que sou firme, estou quase caindo, sem conseguir prever o soco, só recebo. Eu que quero ser forte, chorei no meu ambiente de trabalho; eu que quero ser mulher, me tornei mãe, amiga, irmã e não sei mais quantos papéis eu fiz por situações que me chegaram... Hoje não sei como ser, o que ser. "Você mesma?" Mas meu senso de justiça precisa ouvir o outro! O outro! O outro não fala pra eu saber como agir. O outro não situa!

Dois perdidos; e eu aqui procurando achar... Ele não está bem. E isso tudo é só uma consequência, porque estou com ele. Mas como eu ajudo? Já não sei. Parece que estou no mar do caos e a pessoa na praia. 

Temendo que eu me afogue, ao invés de ajudar, empurrou a minha cabeça pra de baixo d' água. Sem culpa. Foi só o desespero dele e a falta de experiência. Porém eu estou morrendo nisso! Se salvar? Sozinha? E se eu disser que eu não tenho medo do profundo? Que eu não tenho medo de morrer? Que eu sei que lá eu posso ter outra realidade e viver, mas o que eu não estou querendo é ir? Eu não quero é ir! Eu não quero é morrer pra ele e nem que ele morra. 

Nem salvo ele nem a mim. Essa é a história. E quem nos salva ainda não vi. Só vejo as coisas fora de nitidez e eu sem ter onde me segurar. Distante cada vez mais... Quando eu chegar na areia, uma hora eu subirei, mas cadê o outro? A minha preocupação não é comigo, porque eu estou acostumada a respirar o ar de fora e de dentro. É com o outro. Que eu nem sei onde está. Nem se eu vou mais encontrar. Nem ao certo porque a gente chegou exatamente onde chegou. Eu não estou sabendo nada dele. Cadê ele?

Tento me comunicar e não ouço nada nítido. Só murmúrio estranho e vejo sombras... Não consigo nem identificar quem fala. Eu bati a cabeça será? E vem uns lapsos de lembranças dele. Eu já não sei se estou lembrand
o, sonhando ou delirando, por isso fico com meu medo de apagar de vez, pois, quando eu acordar, qual vai ser a realidade? 

Parece que nada do que eu faça ou venha na cabeça está adiantando mesmo. Eu estou sendo levada... E meu receio é: lá vai eu de novo... Dessa vez eu vou acordar com quem e aonde? 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meritocrata caótica

Ela possuía uma pulsão de morte latente. Sentia prazer no caos, visto que nele ela se reconhecia em casa. Nele ela se encontrava como aprendera: humilde. Confundia humildade com reconhecer que era fraca e então, estraçalhar o rei que imperava em sua barriga. Havia um rei sim. Pensava ela com seus botões que ficavam também acima do umbigo, que tudo que vinha pra ela era mérito. 

Ela lera sobre graça, dizia saber o que era, etc; sabia, na teoria. Mas vivia olhando pela desgraça. "Compre novos óculos!" eu ficava gritando. Porém ela era apegada demais àqueles. Dizia não gostar, mas se acostumara tanto que as vezes nem lembrava que não eram seus olhos, mas um complemento, um acessório posto, que poderia trocar. Esquecerá que óculos era para ajudar a enxergar melhor e não para embaçar e se adaptar a esse estado. 

Culpada.; se sentia e se punia. Prisioneira dela mesma e porque queria. Por que queria? Isso eu não sei. Resumi: pulsão de morte. A raíz... Ela teria que ver em análise. Não me cabe. Meritocrata. Seu mau. Ela tinha uma família que lhe mostrou que ela deveria... Deveria... Que a vida lhe recompensaria, que ela deveria fazer, ser. Esqueceram da graça? É difícil equilibrar, mas isso não significa que ela não exista!

O Pai, maior que todos os outros, e que todo o mundo. O Pai ofereceu liberdade, esperança, amor, salvação e tudo mais, de graça em graça. Basta uma coisa: disposição. Pra crer, pra receber, pra fluir, pra ir.   Ela dizia conhecê-lo. Parece que o conhece de ouvir falar, de vista, mas não de ser íntima... São os óculos. Não a fazem ver o quanto Ele está tão perto, o que tem nas mãos a oferecer, mesmo sem ela estender as suas. A graça não é razoável aos olhos dela. Nem mesmo parece ser aos meus tantas vezes. Tive que me reinventar e me aproximar, observar pra absorver um pouco a lógica de como é. E é divina! É acolhedora! Libertadora! É um abraço em redenção. É uma forma de amor. E a gente aprende a reconhecer, a ter, a usar, a ser, a receber. Se ela recebe, que honra e que injusto, ela ser tão "ruim" e receber; se não tem... É um processo continuo de aprendizado, porque o mundo nos ensina a tal meritocracia caótica. 

Foi ela que criou o afastamento com o Pai, porque ela é "ruim". A pergunta é: o que afinal ela quer? Meritocrata. Não sabe receber presente? E sabe dar então? Ou espera reciprocidade? O que espera? Espera atenção. Boa ou ruim. No mais, eu não sei. Talvez nem ela saiba, depende da " lua" dela (em leão, vale ressaltar). 

Deveria pelo menos se analisar e chegar a um senso que a situe, como também ao mundo pra lidar com ela, pois, nem todos estão dispostos todo dia, a entrar na vastidão das suas variações para sempre encontrar algo ruim de quê falar. Há uma vida para além de si. Para além dela e de todos. [Não estou falando de física quântica, essa é outra história.]

 Ahhh se ela ouvir... Talvez dirá: "Não é bem assim... Pesado. Ninguém me entende... Deixar você quieta. O caos sou eu mesmo..." E nem com o caos dela eu deixo de gostar da moça, da moça mais "sei lá o que" eu conheço. Estou falando porque são verdades, elas devem ser ditas, mas também, porque a lua que está cheia e eu também fico às vezes assim: cheia. Mas sem culpa, porque isso é simplesmente: normal. Voltando a graça, em suma: Não dar pra viver sem graça nessa vida. Nem pensando para além dessa terra.