segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Meritocrata caótica

Ela possuía uma pulsão de morte latente. Sentia prazer no caos, visto que nele ela se reconhecia em casa. Nele ela se encontrava como aprendera: humilde. Confundia humildade com reconhecer que era fraca e então, estraçalhar o rei que imperava em sua barriga. Havia um rei sim. Pensava ela com seus botões que ficavam também acima do umbigo, que tudo que vinha pra ela era mérito. 

Ela lera sobre graça, dizia saber o que era, etc; sabia, na teoria. Mas vivia olhando pela desgraça. "Compre novos óculos!" eu ficava gritando. Porém ela era apegada demais àqueles. Dizia não gostar, mas se acostumara tanto que as vezes nem lembrava que não eram seus olhos, mas um complemento, um acessório posto, que poderia trocar. Esquecerá que óculos era para ajudar a enxergar melhor e não para embaçar e se adaptar a esse estado. 

Culpada.; se sentia e se punia. Prisioneira dela mesma e porque queria. Por que queria? Isso eu não sei. Resumi: pulsão de morte. A raíz... Ela teria que ver em análise. Não me cabe. Meritocrata. Seu mau. Ela tinha uma família que lhe mostrou que ela deveria... Deveria... Que a vida lhe recompensaria, que ela deveria fazer, ser. Esqueceram da graça? É difícil equilibrar, mas isso não significa que ela não exista!

O Pai, maior que todos os outros, e que todo o mundo. O Pai ofereceu liberdade, esperança, amor, salvação e tudo mais, de graça em graça. Basta uma coisa: disposição. Pra crer, pra receber, pra fluir, pra ir.   Ela dizia conhecê-lo. Parece que o conhece de ouvir falar, de vista, mas não de ser íntima... São os óculos. Não a fazem ver o quanto Ele está tão perto, o que tem nas mãos a oferecer, mesmo sem ela estender as suas. A graça não é razoável aos olhos dela. Nem mesmo parece ser aos meus tantas vezes. Tive que me reinventar e me aproximar, observar pra absorver um pouco a lógica de como é. E é divina! É acolhedora! Libertadora! É um abraço em redenção. É uma forma de amor. E a gente aprende a reconhecer, a ter, a usar, a ser, a receber. Se ela recebe, que honra e que injusto, ela ser tão "ruim" e receber; se não tem... É um processo continuo de aprendizado, porque o mundo nos ensina a tal meritocracia caótica. 

Foi ela que criou o afastamento com o Pai, porque ela é "ruim". A pergunta é: o que afinal ela quer? Meritocrata. Não sabe receber presente? E sabe dar então? Ou espera reciprocidade? O que espera? Espera atenção. Boa ou ruim. No mais, eu não sei. Talvez nem ela saiba, depende da " lua" dela (em leão, vale ressaltar). 

Deveria pelo menos se analisar e chegar a um senso que a situe, como também ao mundo pra lidar com ela, pois, nem todos estão dispostos todo dia, a entrar na vastidão das suas variações para sempre encontrar algo ruim de quê falar. Há uma vida para além de si. Para além dela e de todos. [Não estou falando de física quântica, essa é outra história.]

 Ahhh se ela ouvir... Talvez dirá: "Não é bem assim... Pesado. Ninguém me entende... Deixar você quieta. O caos sou eu mesmo..." E nem com o caos dela eu deixo de gostar da moça, da moça mais "sei lá o que" eu conheço. Estou falando porque são verdades, elas devem ser ditas, mas também, porque a lua que está cheia e eu também fico às vezes assim: cheia. Mas sem culpa, porque isso é simplesmente: normal. Voltando a graça, em suma: Não dar pra viver sem graça nessa vida. Nem pensando para além dessa terra.

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