terça-feira, 13 de novembro de 2018

Monotonia

Ela andava rápido como se estivesse pronta para pular num vagão de um trem em movimento, sempre de calça jeans até a altura dos joelhos, tênis, blusa branca, preta ou cinza; uma bolsa tipo daquelas de carteiro cor de chumbo; um rabo de cavalo ou um coque mal arrumado que deixava o cabelo de fios avermelhados sempre com mais charme e um óculos que mais parecia um acessório de composição do que algo para proteger seus olhos. Eu achava linda aquela mulher de pele clara, monocromática, aquela do cabelo aquecido passando pela calçada como um vulto e parando apenas para esperar o semáforo deixá-la atravessar. Eu a observo do vidro que nos divide, entre uma calçada e uma cafeteria que eu costumo ir antes de trabalhar... 

Como seria o nome dela? Simples, duplo, pequeno, grande ou de detalhes exagerados? Poderia ter três letras, acho que já a definiria. Ana, Eva, Lis, Zoe, Mel, Isa... Pra onde ela deveria ir assim sempre que eu a via? Sua roupa não me dizia nada. Seria uma babá? Uma fotógrafa? Uma aluna? Uma micro-empresaria? Certamente... Com os passos firmes, velocidade, essa mulher poderia ser tudo e ir aos lugares mais incríveis que ela possa imaginar.

Mais um dia e lá vem a moça. Olha só! É a primeira vez que eu a vejo sorrir. Hoje ela veio pausante com um cachorro peludo cor de chocolate nos braços; hoje ela colocou um calçado vermelho, uma tiara azul no cabelo... Hoje ela continua linda, mas colorida! Resolveu entrar aqui, posso observa-la tão próximo...

- Bom dia! Um café expresso e pão na chapa, por favor. [Falou se dirigindo a atendente que estava do outro lado do balcão.] 
- Bom dia! Lindo cachorro! 
- Obrigada... [Disse sorrindo] 
- Vou fazer o pedido e já te chamo, se quiser sentar ali. 
- Sim. Ótimo! Meu nome é... 

 Ah... Não! Coloquei os fones no ouvido e levantei para sair. Ela hoje veio para desconstruir o meu admirar a sua monotonia cromática, nome simples, seriedade e velocidade no caminhar. Ousadia demais pra mim, preferia deixar preservada a poética no seu passar cotidiano! E então, já na calçada, olhei pra trás e ela havia tirado os óculos, me olhou, sorriu levemente e observei melhor...Ela tem cavinhas! Parti, parti platonicamente de coração estraçalhado porque aquela mulher ganhou cores.
...
 - Mia, seu café está pronto! [Exclamou a atendente]

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