Eu já estou neste mundo há duas décadas e três anos, para alguns, sou ainda muito jovem, para outros, uma adulta formada. Para mim mesma, uma perdia entre isso aí.
Meus objetivos giram em torno de estabilidade e não mais: ir para um show da banda que gosto, fazer uma viagem com as amigas, tomar um porre, conhecer um amor, viajar com ele, me formar, comprar e ler vários livros, assistir filmes com bastante frequência, ir pra academia, tocar violão, fazer teatro, dança, pintar e desenhar, ganhar dinheiro para comprar coisas que alimentam vaidade (ir à manicure, comprar roupas novas, bijuterias, etc) e pagar meus lanches e saidinhas. Isso já passou, pelo menos, não é mais o foco. Já fiz tudo isso aí e algumas coisas ainda gosto de fazer vez ou outra. Mas essa simplicidade não é mais a regra!
Meus interesses são outros já faz um tempo, eu gosto de ir ver móveis nas lojas, adornos pra casa, ler Dicas da Suely, Tríade do Tempo, Como se organizar em 1 minuto, Morando Sozinha, Dinheiro o segredo de quem tem, Virada financeira... Fazer tabelas de orçamento, comprar utensílios pra cozinha, imaginar como posso arrumar e decorar tudo da melhor forma! Trabalho pra pagar as minhas contas (plano de saúde, despesas com a casa, curso, dentista... Algumas roupas, coisas parceladas, etc). Móveis planejados (projetados por mim) na cozinha é um dos sonhos de consumo e por aí vai. Minha profissão influência muito, eu sei, como Designer, tenho a tendência a querer tudo isso, mas não é só isso, são as responsabilidades, a independência e os gostos que vão mudando, aliás os objetivos. Aprecio a seção de utensílios domésticos e decorativos como uma criança numa seção de brinquedos. O meu mundo Disney é na verdade uma Leroy Merlin.
Já faz alguns anos que eu pensava que ao chegar na idade que hoje estou, já estaria academicamente formada, com um bom emprego (empresa ou o meu próprio escritório), casada, morando no meu apartamento com móveis planejados; um jardim em casa, ou algumas plantas na varanda e um cachorro; um carro financiado (pelo menos); comprando tudo que preciso e alimentando a minha vaidade; viajando bastante, e me organizando para iniciar outro curso. Mas como estou: (?) Fiz um curso técnico e um tecnólogo (me graduei), faço especialização na minha área de design de interiores, não tenho escritório, nem emprego fixo, trabalho (ministro aulas - minicursos, e faço projetos de ambientação e edificações) mas com frequências variáveis; moro junto com meu namorado e a família dele; num apartamento alugado (lindinho, devo confessar; e já tem móveis projetados na cozinha); os móveis do nosso quarto são ótimos e compramos exatamente o que queríamos (amém), tenho uma bicicleta que minha avó me deu quando ainda adolescente, a única planta na varanda é uma suculenta barata e eu não tenho muita previsão de quase nada para além disso.
E a estabilidade onde está? Vejo de longe e quando vejo. O caso é sério.
Hoje eu continuo querendo tudo aquilo que eu achava que já teria; e além disso ao escrever sobre o que não é mais objetivo, vejo o quanto fui feliz antes de adultecer, o quão chato (no mínimo) é as cobranças de nós mesmo, da família e do tempo para que conquistemos coisas, para nos posicionarmos, para sobrevivermos! Quão difícil tudo isso é (conquistar e lidar com a falta de quando ainda não conquistou). Os meus pais na minha idade já tinham tudo isso e até filho sem nem precisar se graduar! A realidade era outra e como era...
Nossa geração está repleta de informações, formações, variedades, rapidez, futilidades, superficialidades nas relações, tentativas de organização, instabilidades, desesperos, impulsos e ansiedades. Uma geração do Agora, tentando fazer uma base para o depois, suando perdidos, em nossos próprios objetivos, sempre em busca de algo que custa muito a chegar e quando chega, vem a luta para manter.
Hoje não se pode viver mais sem a tal meta, tabelas, missões, cálculos diários, comidas feitas e ingeridas rápidas, cursos, gerenciamento de tempo, agenda, internet, celular e outras tecnologias. Mais do que qualquer outro período, as informações e vida são atualizados em pouco tempo. Sim, é uma loucura, é árduo e doloroso adultecer. As vantagens estão na independência de ir e vir, mas receio que essa esteja disfarçada diante de tantas obrigações.
Uma luta diária e interna a cada santo dia é praticamente estabelecida e o que não está programado minuciosamente é perdido. O que ainda nos salva é a simplicidade das imprevisíveis belezas do dia, dos lugares, das músicas, dos encontros amigáveis, dos sorrisos e fé que Deus nos dá.
(Ainda bem que sabemos que Deus existe e nos presenteia tanto com simplicidades!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário